Na contramão do mercado de automóveis e comerciais leves, que registra retração de 8,8% no acumulado do ano, o setor de blindados está em alta. Em pouco mais de dez anos, a frota de veículos com proteção balística quintuplicou – em 2013, a alta foi de 21%, para 10.156 unidades, o que fez com que o Brasil tomasse do México o posto de país com maior frota de blindados do mundo. Atualmente, há mais de 120 mil carros blindados nas mãos de civis, segundo a Abrablin, associação que reúne uma de cada quatro blindadoras do País.
Os investimentos não param de crescer. O Grupo Avallon, que reúne blindadora, lojas de novos e usados, locadora de blindados e oficina especializada nesse tipo de carro, está investindo R$ 15 milhões na construção de uma fábrica em Cotia, na grande São Paulo, que ficará pronta em meados de 2015.
Enquanto a unidade não entra em operação, a Avallon abrirá um turno de produção à noite para dar conta da demanda. Segundo o presidente da empresa, Rafael Barbero, com a nova planta, a produção será de 120 unidades por mês.
“Além de adequar a oferta ao volume de pedidos, estamos investindo em tecnologias mais modernas.” Entre as novidades, os clientes poderão acompanhar pelo celular o andamento do serviço no carro. “A possibilidade de acompanhar o que está sendo feito no carro em tempo real dá mais tranquilidade a quem adquire o serviço.”
Outra empresa que está investindo na ampliação da oferta é a Eurobike, grupo especializado em venda de veículos premium que no início do ano inaugurou uma divisão de blindagem.
“Começamos com uma capacidade para 35 a 40 veículos ao mês e já estamos ampliando para 50 unidades”, diz Henry Visconde, acionista majoritário da Eurobike. O investimento para a ampliação é de R$ 3 milhões.
O grupo atua em parceria com a blindadora G5 e deve encerrar o ano com 350 blindados entregues. Para 2015, Visconde espera um crescimento de 15%. O serviço para modelos como Audi A3 e BMW Série 3 e 5 custa em média R$ 55 mil.
Locação. O mercado está tão aquecido que a Mercedes-Benz lançou um serviço de locação de veículos de sua frota – a maioria blindados. Por ora, a oferta é restrita à região metropolitana de São Paulo, mas a empresa pretende ampliar a área de cobertura em breve.
Carros como os sedãs C 180 e E 250 e os utilitários-esportivos GLK e ML podem ser alugados por qualquer motorista a partir de 21 anos e habilitado há pelo menos dois anos. Os custos de locação incluem quilometragem livre e assistência técnica 24 horas, entre outros.
Responsável pelo programa, batizado de MB Rent, Ricardo Tartari diz que a maioria das locações ocorre nos fins de semana. “Os clientes podem experimentar um carro que não conhecem antes de decidir pela compra”, afirma. A diária de um sedã Classe C (da geração antiga) parte de R$ 1 mil e a de um utilitário ML, de R$ 2,5 mil.
Os bons resultados do setor são fruto de uma triste realidade: o crescimento da violência, principalmente nas grandes cidades. Agosto foi o 15.º mês seguido de aumento do número de roubos em São Paulo.
Só a Concept Blindagens recebeu sete carros blindados baleados precisando de reparos. Segundo dados da empresa, a média histórica é de um veículo alvejado a cada dois meses.
Seis casos ocorreram na capital e litoral paulista. A maior parte dos disparos partiu de pistolas 9mm, .40 e 765. “Só um foi atingido por tiros de revólver calibre 38”, diz o diretor da empresa, Fábio Rovêdo de Mello.
Presidente da Abrablin, Laudenir Bracciali diz que os serviços de blindagem, que eram solicitados por multinacionais para servir seus altos executivos, passaram a ser demandados também por profissionais de nível de gerência e famílias, principalmente mulheres com filhos.
O presidente de uma grande empresa estrangeira do ramo de turismo, que falou sob condição de anonimato, é um bom exemplo. Quando sua mulher ficou grávida, há pouco mais de cinco anos, ele comprou o primeiro blindado.
Desde então, nunca mais usou carros sem blindagem – acaba de comprar o quarto modelo. “Em uma cidade como São Paulo, não dá para rodar em um carro ‘normal’. Trata-se da segurança da minha família.”
Fonte: Estadão